terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Videogame: Um objeto de estudo

Texto Dissertativo sobre as relações contemporâneas entre videogames e comunicação. ( Rafael Martins)
Comunicação e Games.

Cada vez mais é possível perceber a transversalidade das linguagens que se cruzam no campo da comunicação e formam novas relações emissor receptor. É visível o aumento de interesse por estudos acadêmicos que tratem da aproximação do cenário dos jogos informáticos com os vários campos de conhecimento. Por isso, se criou a ludologia, termo que designa o estudo dos vídeos game. O vídeo game tem sido entendido como um objeto independente e gerador de significações. Isso nos faz refletir sobre questões como: Será o videogame uma nova linguagem da comunicação? Será uma nova linguagem com mais de cinqüenta anos de história, que havia sido ignorada pelos comunicólogos? Existe uma hiperealidade nos jogos? O videogame tem se reinventado e aumentado o seu poder de jogabilidade, de interação, ou seja, de comunicação através de formas mais modernas e complexas de entreter o jogador?

Afinal, podemos nos questionar porque passou a haver este interesse com os jogos eletrônicos. Sem dúvida, os vídeos games chamaram muita atenção pelo sucesso com seu público, pela indústria que crescia de uma forma independente, seu produto não dependia de outros, é uma cadeia que se mantém sozinha e que está aprendendo que se trabalharem seus produtos com outras indústrias podem ganhar ainda mais. Por isso os quadrinhos, os bonecos de brinquedo, os filmes e uma série de produtos compartilhados.

Porém, estudar o vídeo game colocou situações difíceis de delimitação do tema. É difícil circundar um objeto multi-diferente. O videogame é comparado em diversos estudos com a literatura, o cinema, os quadrinhos, a internet. Isso não quer dizer que ele não tenha se apropriado de outras gramáticas para se estabelecer, mas no seu estágio de desenvolvimento já aparecem sentenças próprias que podem ser reconhecidas.Segundo MacLuhan, é um equívoco julgarmos novos meios através da comparação dos anteriores, já que dentro desta perspectiva tendemos a negar o novo.

Para compreendermos melhor o nosso objeto de estudo devemos fazer um acompanhamento epistemológico da significação de seu nascimento através da microinformática e da televisão e das mudanças nos formatos de distribuição e conteúdo que abriram caminho para a transformação do entretenimento em comunicação.

Os jogos eletrônicos foram, desde seu início, tratados de duas formas: ou coisa de criança ou como jogos de azar (KENT, 2001). É estranho associar os jogos eletrônicos às mesas de poker ,sinuca, caça níqueis, mas na verdade eram os mesmos produtores. A indústria que desenvolveu os primeiros jogos eletrônicos foi a do pinball .A proximidade era inevitável, desde as rotas de distribuição até as empresas de manutenção, tudo era processualmente parecido. Isso, aliado, ainda, ao fato das primeiras máquinas não possuírem formas de desenvolvimento de habilidade para o jogador ter chance de poder fazer uma partida pior ou melhor. Não havia ainda uma discussão em cima da questão do “Ludus” do jogador, sua capacidade de se diferenciar de outros players

O videogame era visto como uma coisa de criança e uma simples forma de entretenimento. Havia uma clara separação entre jogos de moedas, como os fliperamas, e os primeiros jogos de televisão, para se jogar em casa. Em 1969, durante questionamentos sobre novos usos para a televisão, Ralph Bauer inventa uma forma de transmitir para televisão imagens digitais e controlá-las. Esse é o momento da invenção do videogame. A metáfora começa a aparecer. O videogame aparece como um híbrido, como um filho da união entre o computador e a televisão.


Entretenimento comunicativo

De forma sutil, a comunicação começa a entrar no processo de criação dos jogos de videogame. Mas de que maneira podemos perceber isso nos jogos? Os gráficos são apontados como um elemento que foi super importante neste processo de cognição dos elementos simbólicos que são trabalhados através do imaginário semiótico do jogador. A hiperealidade advém da aproximação dos traços gráficos da própria realidade vista e compartilhada. Essa imagens agora são compartilhadas através das sentenças narrativas visuais a partir de um pensamento de comunicação, entre diretor-autor e jogador.

Poole fala sobre a interface no sentido semiótico, sobre significação dos
elementos apresentados e a grande quantidade de informação. Isso demonstra
parte
de uma evolução que envolve gráficos e interfaces. Além disso, fazem
parte
também a narrativa, o espaço, o tempo (WOLF, 2001; MURRAY, 1997) e a
construção
do envolvimento interativo do jogador com essa obra.

A estética foto-realística acontece pelo desenvolvimento tecnológico, mas é também
responsável pelo aumento de profissionais da comunicação no universo dos
videogames. Esta complexidade ocorre pela re-aproximação dos jogos eletrônicos
aos processos de produções comunicacionais. O caráter foto-realístico é apenas
um dos fatores que é representativo neste tipo de produto.
Outro fator comunicacional interessante que passou a ocorrer nos jogos foi a preocupação com a seqüência da narrativa. Parece estranho, mas os jogos antes não tinham fim. Eles ou acabavam sem vim ou “viravam” (termo usado quando o jogo recomeça). Um jogo que recomeça é um jogo com laços narrativos fracos. Para terminar, um jogo precisa que a história desenvolvida forneça ao jogador um ambiente que ele aceita parar de jogar quando chegar a um determinado estágio na trama. Para que essa complexidade fosse evidenciada num jogo, outro tipo de artista foi incorporado à criação de jogos: o roteirista. Colaborando para que a obra game comece a compor uma nova gramática. Nessa nova estrutura um desafio decisivo é aliar interatividade digital com jogo e elementos de comunicação. Além de gráficos, roteiros, interface, são indícios de outros parâmetros que podem ter suas transformações, a partir da comunicação, demonstradas ao longo do desenvolvimento do videogame.
O videogame possui uma gramática própria que tem sido ignorado pelos estudiosos da comunicação. Sua estrutura narrativa (conflito, regras, habilidade de jogo e retorno de processamento), sua estética realista, seus formatos, sua forma de distribuição dentre outros, são fatores que nos permitem afirmar que há uma nova forma de comunicação que é própria ao videogame, elevando-se assim a um veículo de comunicação.

Estrutura Narrativa
O conflito é a base do jogo, da trama narrativa, qualquer motivo que possa dar a possibilidade do jogo se desenvolver. O conflito está na base para que toda uma trama, uma justificativa possa acontecer no jogo. O conflito pode ser dos mais supérfluos, como os games mais antigos, ou dos mais complexos, onde existem verdadeiras lendas em cima da trama.
As regras são fundamentais para definir as relações, o espaço, o tempo, e todos os outros fatores determinantes em um jogo. Na verdade, as regras são o próprio jogo, e aqueles que as infringirem de maneira a burlar o sistema passam a serem visto de uma forma excludente por aqueles que ainda querem se manter no estatuto do jogo.
Outro fator importante é a jogabilidade do game, a habilidade do jogador significa a possibilidade de atuação em jogo através do desenvolvimento de capacidades motoras, sensoriais, de antecipação ou até mesmo da própria sorte. Um videogame deve possibilitar ao jogador a aparente ilusão de equilíbrio de jogo contra um adversário, seja ele o próprio videogame ou outro jogador. Inclusive, em seu livro Theory of fun, Raph Koster, discute este tópico apontando-o como o principal fator diferencial dos videogames, e a mais importante característica na hora da escolha.
Conclusão
O entretenimento é um dos formatos que a comunicação adotou como forma de transmitir mensagens, um formato muitas vezes tido como sem valor ou função, mas que provou socialmente ser uma das formas de manutenção da condição humana. O game está nesse momento tentando ultrapassar a sua condição inicial de entretenimento para emprestar a comunicação sua experiência de interação.
A Internet através da sociabilidade, interação, questões econômicas, estruturas de interface e outros confins de pesquisa, passa a ser um dos principais objetos de pesquisa em tecnologia de comunicação. Temos que reconhecer que a rede possibilitou a potencialização dos games on-line e multi-jogadores. As características primordiais da internet são bastante próximas da dos videogames, e, atualmente, assistimos a Internet, no que diz respeito as suas estratégias com os “surfistas” de suas páginas para resgatar formatos dos games para interfaces e interações

Texto baseado no artigo publicado pelo professo Dr. Cristiano Max Pereira Pinheiro - Feevale/RS - maxrs@feevale.br. Videogames- Do entretenimento à comunicação- http://www.ufscar.br/rua/site/?p=653

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